17.12.02

Aviso

Prezados leitores. Esta página voltará a ser atualizada a partir do dia 5 de janeiro. A todos um Feliz Ano Novo!

16.12.02

Melhor dosar o entusiasmo pela China

Por Paulo Leite, de Washington, DC

Às vésperas da chegada do PT ao governo, num ambiente econômico de incerteza, muita gente aponta a China como um exemplo a ser seguido pelo Brasil. Afinal, um país comunista que parece mais craque no jogo do capitalismo do que muitas das tradicionais potências econômicas ocidentais faz bater mais rápido o coração das viúvas do sonho marxista.

Essa gente aponta para as impressionantes estatísticas exibidas pelo governo chinês, desde a chegada ao poder de Deng Xiao Ping. Mas, como notou recentemente um editorial do jornal Washington Times, "depois do 'Grande Salto Adiante' e da 'Revolução Cultural' de Mao Tsé Tung, havia uma quantidade ilimitada de progresso a ser conquistada".

O problema, agora, é que todas as reformas fáceis já foram feitas. A agricultura, arrasada no tempo de Mao, foi reformada e reagiu como podia. As indústrias voltadas à exportação, que receberam uma quantidade sem precedentes de investimento externo, foram o segundo passo. Impulsionadas em grande parte pela abertura do mercado norte-americano, essas indústrias estão atingindo um ponto de maturação, com perspectiva menor de crescimento. E essa é a parte boa da economia chinesa.

O Washington Times lembra que no ano passado o Primeiro-Ministro Zhu Rongji reconheceu que a economia do país provavelmente teria entrado em colapso em 1998, não fosse o massivo aumento dos gastos públicos. Essa dependência nos gastos do governo não tem como continuar por muito tempo. Os chineses pintam um quadro positivo, dizendo que o endividamento do governo representa apenas 16% do PIB. Economistas ocidentais, porém, garantem que esse número na verdade está perto dos 100%. É que o governo não conta como dívida os empréstimos tomados em bancos estatais que não têm perspectivas de serem saldados. Mais da metade de todos os empréstimos existentes, segundo analistas.

Para resolver a insolvência do sistema bancário do país, a China teria que fechar milhares de empresas estatais criadas apenas para empregar milhões de trabalhadores que - a julgar pelo aumento recente dos protestos - não estão muito contentes com sua situação. Também não andam bem muitas empresas de propriedade dos próprios trabalhadores. Uma reportagem do Washington Post mostrou que nessas empresas os trabalhadores se mostram avessos a fazer mudanças necessárias, são contra quaisquer demissões, fazem "corpo mole" e muitas vezes usam os recursos das empresas como se fossem propriedade particular. Numa vinícola chamada Jing, por exemplo, os trabalhadores aparentemente beberam a maior parte dos lucros.

Outro problema: as tão famosas estatísticas que mostram o incrível crescimento da economia chinesa estão sob crescente suspeita. O Washington Times cita especialistas ocidentais que se perguntam "como pode a economia da China ter crescido 25% entre 1998 e 2000, enquanto o consumo de energia elétrica no mesmo período caiu 13%?"

Luiz Inácio Lula da Silva, que se mostrou tão entusiasmado com a China na entrevista coletiva que concedeu em Washington outro dia, faria bem em notar um estudo do Banco Mundial que estima que os chineses vão ter que criar entre 8 e 9 milhões de empregos por ano só para evitar que os atuais índices de desemprego aumentem muito. Não vai ser fácil. Esses números representam 50% mais empregos do que a China conseguiu criar nos seus melhores anos, na segunda metade da década dos 90.


DIREITO DE DESCONFIAR

Por Carlos Reis

uém já disse que a intolerância é a marca da discórdia e fonte de todo o conflito. Não tolerar o outro, deixando de ver nele qualidades que apreciamos e valores que defendemos, é desconfiar desse outro permanentemente. Se alguém, entretanto, resolve mudar de convicções, seria natural que lhe fosse concedido o benefício da dúvida, evitando assim que a intolerância se perpetuasse. Desconfiar de alguém é negar-lhe credibilidade; confiar em alguém é atribuir-lhe uma licença para falar em nosso nome e reverberar nossos sentimentos mais íntimos.

caso de Lula, que ora pretende ser social-democrata, se estiver dizendo a verdade; e que se passa por social-democrata se estiver mentindo, hesitamos entre confiar na sua palavra e continuar a nossa intolerância para com ele, isso se formos sociais-democratas assumidos. Para quem não é...

ia o caso de conceder a Lula o benefício da dúvida? Para isso seria necessário que ele nos provasse a sinceridade de suas intenções. Mas ainda há um problema. Dizem que o seu governo tem “perfil social-democrata” (manchete de capa de Zero Hora 15/12/2002), pelo menos é o que dele diz a grande imprensa. E se ela estiver enganada, ou está nos enganado mais uma vez? Como saber? Dele mesmo, eu nada ouvi, ou li a esse respeito. Vá lá que seja assim, então.

José Giusti Tavares in TOTALITARISMO TARDIO: O CASO DO PT, ed. Mercado Aberto, 2000, Porto Alegre, nos conta que em 1959, em Bad Godesberg, Alemanha, o SPD alemão, em célebre e histórica reunião, resolveu em definitivo renunciar a duas coisas: à tentação revolucionária, e à pretensão de ser um partido portador de “verdades últimas e exclusivas”. De um golpe, o mais representativo partido da social-democracia européia, e maior do mundo, abdicava da via revolucionária e da pretensão messiânica de ser o portador da salvação terrena na escatológica situação prevista pelo marxismo ortodoxo. É isso que um partido socialista e marxista precisa dizer e fazer se quiser se transformar em uma social-democracia. Para todo o sempre a social-democracia alemã renunciava ao sonho marxista.

É isso o que o PT, ou o governo de Lula, está fazendo? É isso o que José Dirceu está dizendo, ao afirmar-se orgulhoso e emocionado de poder hoje fazer valer na prática o “sonho de sua geração” ? E que sonho era esse, senão a revolução?

Um “perfil” social-democrata não se constitui apenas compondo um ministério com técnicos e especialistas em mercado que têm apenas uma tênue relevância política. O que se sabe por experiência de outros governos, esse é o modo mais fácil de esconder o mandonismo autoritário, e até totalitário. O decisionismo autoritário do regime militar tinha exatamente essa característica. Por trás desses regimes permanece intocável o princípio centralizador e decisório, que no caso de governo Lula é o centralismo democrático leninista dos sonhadores Dirceu, Mercadante, Genoíno, et caterva, açulados por outra caterva, essa publicamente radical no seu script de intolerância assumida. Para inglês e Bush verem, a mais visível intolerância interna dos “radicais” do partido que a mídia amestrada repercute ad nauseam, por enquanto, é isso mesmo, uma fachada (algo para se ver) de oposição ao “social-democrata” Lulinha Love&Peace. O tempo dirá se é sincera a conversão de Dirceu ao caminho apontado pelo SPD alemão, ou tudo não passa de um sonho da juventude mesmo, por coincidência, o nosso maior pesadelo.


13.12.02

COMO O DIABO GOSTA (versão inglesa LIKE EVIL LIKES)

Granja do Torto e a Direito,

BRAZILIA, CUBA, DECEMBER, 12, 2002

BOLETIM DA TRANSIÇÃO

Por Carlos Reis

Depois de termos todos sido fornicados convenientemente nas últimas eleições, gesta-se nesse momento no Torto o futuro ministério socialista de Lula. Já se conhecem alguns titulares e algumas estratégias de governo. Adiantamos também algumas fofocas de praxe.

MINISTÉRIO VERDE. Sob esse título clorofílico, que esconde a insustentável pequenez intelectual do próximo governo, teremos que aturar (não se sabe ainda por quanto tempo) aquela tamanha indigência amazônica. O que esperar de um governo que diz que a sua principal prioridade é o meio-ambiente com desenvolvimento sustentável, ou o diabo que isso queira significar? Estou com inveja, confesso. Eu deveria ter danificado pelo puro “princípio da precaução” o o meu cérebro com 3 ou 4 malárias, 2 ou 3 hepatites, e uma que outra intoxicação marxista-leninista disfarçada de envenenamento plúmbeo, ao invés de ter tentado ganhar a vida honestamente consertando o corpo e o espírito dos meus semelhantes a preço vil. Quem mandou eu não ser sócio do Chico Mendes e herói do WWF?

MINISTÉRIO DO FAZ DE CONTAS. Sob esse título outra sumidade, desta vez na área econômica, está prestes a ser a mais nova esperança brasileira. Desviado de sua nobre missão hipocrática, o futuro ministro do Faz de Contas de Lula, com imenso currículo popular e democrático, e que sorri sempre que paparicado pela imprensa dócil e cúmplice, aguarda a sua nomeação para inventar a roda quadrada que roda para trás. Em ninguém pergunta se não seria o caso dele ter alguma titulação ou experiência na área. Não digo um PhD, o que não se exige nem de um presidente honesto, mas um bachareladozinho à toa, algo minimamente necessário para que não fique a impressão que a economia requer alguém do ramo. Político há 14 anos, deputado, e depois prefeito de uma nova iorque de algumas centenas de milhares de habitantes, o sorridente embaixador das Farcs, de repente alcança o ápice dos ápices. De novo, confesso que estou com ciúmes. Ah, por que não fui trotskista na juventude e não nasci com o gen da língua presa e o cérebro frouxo!

MINISTÉRIO DA PEQUENA AGRICULTURA. Sob esse título (dificilmente o titular será conhecido publicamente), funcionarão vários departamentos diretamente ligados à presidência da República. Entre eles estará o já conhecido Programa Contra a Fome, o Food Stamp Program do socialista fabiano Roosevelt, e que foi incrementado por Bill Clinton. Porém, será necessário antes criar o Censo Nacional da Fome. Como a raça, também segundo o PT, a fome pode ser mensurada. Os obesos não só estão excluídos do Programa, como poderão ser responsabilizados por essa injusta distribuição de calorias. Será o fim do latifúndio das gorduras! Poderá haver perseguições, emtretanto. Agentes comunitários munidos de balanças ou dinamômetros poderão caçar obesos em todas as latitudes. Deveria haver cotas para calorias! Quem for pego além da cota oficial poderá pegar alguns anos de trabalhos forçados na Amazônia. Aliás, o modelo oficial, estatisticamente correto do Estado, não terá mais do que 50 kilogramas de massa corporal (modelo amazônico), e o cérebro não poderá ter mais do que 50 g, segundo modelo do cérebro do inventor do prêmio que o FHC está faturando na ONU. Não se sabe ainda como será o ticket-refeição, nem quem serão os grandes atacadistas beneficiados na licitação. Eu imagino que serão os mesmos que confiaram e recomendaram o governo Lula! Mas é mera presunção minha. Do escritório da transição tem-se como certa apenas a política geral contra a fome, a ser atacada por múltiplos departamentos, entre eles o Departamento de Coletivização Forçada; uma ONG vegetariana que predica o Procat, Programa de Ruminação de Capim transgênico; e o órgão censor acima referido para exclusão de obesos com perfil capitalista. Esse órgão também será aparelhado para lidar e prender a multidão de corruptos que esse tipo serviço enseja. Gulag neles!

MINISTÉRIO DA INVASÃO DE TERRAS E OCUPAÇÃO SOCIAL. Juntos em uma mesma pasta por razões de economia e ideologia, esse Ministério terá a nobre função de resgatar o mal do latifúndio. Algumas mudanças na atual Constituição Federal Provisória serão necessárias. Pensa-se em medidas de forte impacto sobre a propriedade, como alta taxação, confiscos de terras, bloqueio de financiamentos do BB, e novo destino social a ser dado ao Banco da Terra. Mas de concreto apenas existe a presença feminina e negra no Ministério, reforçada por clérigos sedentos de sangue, uma espécie de colegiado. Aguardemos. Os bofes/betos/bispos de sempre, é claro, estão habilitados.

ALGUMAS NOTAS ADICIONAIS

Houve muxoxos e ranger de dentes com o pessoal do PSB, afinal, socialistas assumidos, que foram preteridos por socialistas enrustidos. O PDT e o PPS também reclamam no injusto repartimento do botim eleitoral. O Brizolla ficou p. da cara com a indicação para o seu partido do Ministério das Comunicações. Brizolla teria que chefiar as negociações dos seus homens com os grupos privados das teles. Pareceu a todos provocação petista.

Mas a nota forte é a possível participação do PMDB de Rita Camata no governo Lula. Pedro Simon, um ícone da democracia, um monumento das liberdades políticas, um lídimo representante da pior espécie política, a um tempo oportunista e traidora , que se tem notícia no Brasil desde há 30 anos, será um Ministro Sem Pasta do governo. Sem Pasta e Sem–Vergonha!

MINISTÉRIO DA TRANSIÇÃO. Um tucano também se postula para o Banco Central. Já viajou ao FMI em Washington e é deputado federal. O FHC encontrou a fórmula de perpetuar-se no governo Lula. E ainda não querem que eu desconfie que ele é o “Kerenski que deu certo”! E por falar no Kerenski, não deu outra. Como eu tinha adiantado, o esperto acaba de contratar os serviços do agente de Clinton para ganhar uma nota preta como conferencista internacional. Enriquecerá dizendo ao mundo como conseguiu implementar no seu país um regime socialista atrasado, a pior expectativa de vida para quem vive apavorado com o poder do crime que ele deixou se organizar, e como ele conseguiu destruir a educação e a moral tradicional do povo brasileiro em apenas 8 anos! E ainda sorri, aquela hiena!

(Quem não quiser receber mais mensagens como essa é só ligar para o GRAI – Grupo de Repressão a Atos de Intolerância – a primeira KGB petista em funcionamento.)


Um caipira em Washington

Por Paulo Diniz Zamboni

A encrenca: Lula nos "states".

Embora a estréia do recém-eleito presidente da república Lula tenha sido razoável no quesito diplomacia, ficou evidente a falta de preparo do nosso representante maior, a começar pelo fato de participar de uma reunião diplomática ostentando símbolo de seu partido na lapela do paletó, como se o partido estivesse acima do país. Que se saiba, o presidente Bush não estava com nenhum “botom” do partido republicano, e quando ostenta algum tipo de símbolo, é a bandeira de seu país.

De concreto, restou o fato de que o futuro presidente da república precisa adquirir maior traquejo em encontros com lideranças de alto nível internacional, como o presidente dos Estados Unidos, para evitar o nervosismo e as gafes (que deram um certo ar de película circense, estilo “Um Caipira em Bariloche” ao desempenho de Lula), e não depender tanto da imensa comitiva de assessores, que dão mais declarações à imprensa do que o próprio futuro presidente. Até mesmo a prefeita de São Paulo, cujos afazeres administrativos devem estar muito “estafantes”, aproveitou para dar uma “esticada” até os EUA, pois ninguém é de ferro, talvez na tentativa de levar um pouco de glamour à comitiva presidencial.

O encontro com jornalistas após a reunião com o presidente Bush também revelou outra característica que Lula precisa mudar urgentemente: a sua incapacidade em analisar serenamente questões delicadas que lhe são apresentadas. Quando perguntado sobre as relações do Brasil com a China, saiu-se com uma tirada supostamente “espirituosa”, contando com a cumplicidade da platéia, formada em grande parte, para variar, de jornalistas simpatizantes do PT, que agora também se prestam ao papel de “claque”, que alterna risos e aplauso para o seu “ídolo”. Confesso que fiquei na dúvida: será que havia alguma placa que acendia e apagava, ou um animador de platéia, dizendo quando começar e parar de rir, como naqueles shows de TV, no auditório onde Lula discursou?

Resta saber se em todas as viagens que Lula fizer e tiver de conceder entrevistas coletivas haverá sempre uma platéia tão “entusiasmada”, cuja reação servirá para encobrir o despreparo do presidente.

O fato é que cedo ou tarde, o PT e Lula teriam de perceber que as relações internacionais vão muito mais além de encontros com pseudo-revolucionários e bandoleiros de terceiro mundo, ditadores caquéticos e caudilhos demagogos, todos irmanados num antiamericanismo ridículo e primitivo, que sempre fez a alegria dos petistas. Além disso, Lula deve ter percebido que aquela conversa de que o presidente Bush é um “caipira despreparado”, era apenas conversa, e que por mais que a mídia esquerdista se esforce para colocar em pé de igualdade os dois presidentes, o preparo intelectual e profissional de Bush é bem superior ao de Lula.

Resta ao Brasil torcer para que o esforço feito por Lula e sua equipe visando demonstrar moderação na visita ao presidente Bush, não seja apenas jogo de cena para agradar os credores e investidores internacionais, enquanto internamente, o partido se dedica a implementar políticas demagógicas e estatizantes, ao mesmo tempo em que negocia cargos e favores de forma acintosa, tudo isso, é óbvio, sem que os patrulheiros da mídia e do ministério público, que durante anos atacaram o PSDB e o PFL por práticas parecidas, movam um dedo sequer.

Vamos aguardar, e torcer para que aquelas lendas sobre “milagres de natal” se tornem realidade neste nosso sombrio final de ano.

12.12.02

O Blefe do Boff



Por Nivaldo Cordeiro

A Encrenca: o frei inteiro

blefar . [De blefe + -ar2.] V. int. 1. Iludir no jogo, apostando e/ou agindo como se tivesse boas cartas. 2. Esconder uma situação precária ou desvantajosa: Está desempregado mas continua blefando em casa. T. d. 3. Enganar, lograr: Blefou a vigilância do hospital e saiu sem ter alta. Dicionário Aurélio.

Confesso, meu caro leitor, que muito me divirto ao ler e comentar os textos de opinião dos ideólogos da esquerda. Um dos autores mais interessantes para esse mister é Leonardo Boff. Seu último artigo, publicado no “Jornal do Brasil” no último dia 06/12, é daqueles de pôr num quadro: é uma obra de arte ao revés, uma confusão de idéias, uma coleção de sandices supostamente apologéticas ao presidente eleito.

O título do artigo é encomiástico: “Lula na cena mundial”. Fazendo coro com Emir Sader, outro ideólogo digno de comentários, ele afirma que as viagens inaugurais de Lula ao exterior marcam “o começo do pós-liberalismo”. Ele até começa bem o artigo ao dizer que “A prioridade das políticas mundiais está na rentabilidade financeira a curto prazo, na eficácia produtiva, na estabilidade dos mercados e no combate implacável ao terrorismo. A palavra de ordem da cultura daí derivada é a maximalização (sic) da felicidade individual, tirando o máximo proveito do que a tecnociência nos oferece em bens e comodidades”.

E poderia ser diferente? Alguém pode imaginar como seria o mundo sem eficácia produtiva, sem combate ao terrorismo e sem investimento rentáveis, sem a tecnologia aplica à produção? Seria o atraso e a desordem, claro. Então ele completa: “A solidariedade mundial para erradicar a pobreza, incluir a todos no planeta e superar os conflitos regionais não ocupa nenhuma centralidade”. Ora, tudo isso não passa de palavras-de-ordem para justificar o estatismo e a revolução, que Boff prega ao quatro ventos. Ele afirma:

“Para beneficiar o capital, procura-se relativizar a Nação, desinventar o Estado e desacreditar a classe política que pensa num projeto nacional. Impera o projeto mundo, regido pelos interesses dos mais fortes”.

É claro que isso é um conjunto de falácias. A única coisa que beneficia o capital – o que significa beneficiar a sociedade como um todo – é uma ordem jurídica estável, com uma classe política respeitável e um projeto nacional que coloque os indivíduos como sujeito. É tudo que não temos, é tudo que nos falta. Essas falácias servem para suportar a seguinte afirmação, carregada de retórica:

“O governo Lula vai numa direção totalmente diferente. Aí reside a contribuição que poderá oferecer para um novo arranjo das políticas mundiais. Discernimos três pontos que caracterizam a política no estilo Lula. Primeiro, fazer política com o coração. Vale dizer, não nos palácios, no meio de papéis, mas nas praças, no meio de gente, sentindo na pele suas carências, cuidando de suas chagas e suscitando a esperança. Sem compaixão não se combate a fome. Segundo, suscitar em todos a boa vontade, base esquecida de qualquer repactuação. A política como sedução deve desentranhar nos atores sociais essa boa vontade. Terceiro, dar prioridade ao social e colocar o econômico a seu serviço, ambos submetidos a uma visão ética do mundo”.

O que significa fazer política com o coração? Nada. Se há algo de cerebral nesse mundo, é a arte de fazer política. Boff deve estar ainda impregnado da falsa propaganda eleitoral, lacrimogênica, que seu partido utilizou no limite do possível para eleger o seu candidato. Se isso é o que ele entende por fazer política com o coração, então estamos perdidos: será um governo de combinação populista e messiânica. Que significa fazer política nas praças? Nada. Apenas uma variante do besteirol anterior. Boff, como Lula, é realmente um sujeito cordial, no sentido pejorativo da expressão.

E dizer que vai priorizar o “social” sobre o econômico é uma falácia só: social é econômico, não há essa dicotomia. Talvez ele quisesse dizer que sacrificarão ainda mais quem trabalha para o regalo dos que nada fazem, mas isso nada tem de social, é anti-social, é imoral. Mas é só isso que as esquerdas pregam e sabem fazer, que é construir um odioso sistema de privilégios vinculado ao trabalho compulsório dos agentes que são produtivos.

Os primeiros movimentos do governo Lula, todavia, já mostram a ausência de novidades. Se tentar inventar moda, quebrará o País. Espero que a sensatez prevaleça e o novo presidente escape dos maus conselhos de Boff et caterva. Mas sei que isso seria pedir muito.


11.12.02

Lula, Castro e China

Por Constantine Menges*

Em 10 de dezembro de 2002, o presidente George W. Bush se encontrará com o presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, que toma posse em 1° de janeiro de 2003. De ambos os lados haverá frases cordiais, fotografias de amigáveis apertos de mão, e a maior parte do público continuará acreditando que Luis Inácio Lula da Silva – apesar dos mais de vinte anos de admiração professada a Fidel Castro – governará de acordo com o que propôs na campanha eleitoral, quando deixou o radicalismo para trás e projetou a imagem de um reformismo pragmático.

Pode ser que isso aconteça, e muitos membros do Departamento de Estado norte-americano parecem crer nessa hipótese esperançosa. Mas o futuro mais provável será aquele em que o governo Lula irá combinar duas tendências opostas: um forte interesse em promover as exportações brasileiras e manter boas relações com os EUA, investidores estrangeiros e organizações financeiras internacionais e, ao mesmo tempo, uma série de ações paralelas, tanto visíveis quanto ocultas, que tencionem auxiliar radicais pró-Castro e anti-EUA a tomar o poder em países vizinhos como a Colômbia, atormentada há décadas por ataques de guerrilhas comunistas.

Uma nova coalizão pró-Castro se estabeleceu no hemisfério ocidental abrangendo Chavez na Venezuela e os presidentes eleitos Lula da Silva, no Brasil, e Gutierrez, no Equador. Estes, como Chavez tem feito desde 1999, perseguiriam estratégias paralelas, mantendo normalmente relações comerciais e financeiras com os EUA enquanto ajudariam outros radicais pró-Castro a chegar ao poder e aliar-se a patrocinadores estatais do terror, como Cuba, Irã, Iraque e Líbia, em uma série de questões. É ainda provável que estabeleçam relações estratégico-políticas, econômicas e talvez militares muito próximas com a China comunista, como fizeram Cuba e Chavez.

O aspecto pragmático da política de Lula da Silva fica evidente nas afirmações de dois de seus aliados, após a eleição, de que seu governo quer “duplicar as exportações para os EUA em quatro anos, e triplicá-las em oito”, pretendendo ao mesmo tempo fortalecer o MERCOSUL, tratado de comércio entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Em entrevista a Lally Weymouth, Lula da Silva declarou que sua política consistirá em “atingir os setores mais pobres da população”, ficando sempre “alerta à dependência do capital estrangeiro”. Disse ainda que “cumpriremos todos os contratos assinados pelo governo brasileiro”, ressaltando a intenção de seu governo de não se esquivar da volumosa dívida pública brasileira, que hoje atinge os US$ 260 bilhões.

Contudo, um importante indicador das dimensões radicais dos planos futuros de Lula é que, desde 1990, ele congrega, em encontros anuais, o “Foro de São Paulo”, que incluiu todos os partidos políticos e organizações comunistas/terroristas da América Latina, junto a grupos terroristas da Europa (IRA, ETA) e do Oriente Médio (PFLP GC), bem como participantes do Iraque, da Líbia, de Cuba, e outros financiadores estatais do terrorismo. Esses encontros são descendentes diretos da “conferência tricontinental” estabelecida por Castro em 1996 para ajudar organizações terroristas da América Latona, Europa e Oriente Médio a coordenar melhor seus ataques aos EUA e seus aliados.

Em dezembro de 2001, o grupo de Lula se encontrou em Havana, Cuba, e em dezembro deste ano eles se encontraram na Guatemala, novamente acompanhados de delegados de Cuba, Iraque, Líbia e Coréia do Norte. Como indicador de suas posições políticas, as atas do encontro de 2-4 de dezembro de 2002 continham as seguintes declarações: “Tropas da OTAN perpetraram genocídio em Kosovo, forças norte-americanas e britânicas massacraram a população afegã... [prisioneiros mantidos pelos EUA em Guantanamo, Cuba] são submetidos a punições e torturas... com total apoio americano, o governo de Israel mantém uma política sistemática de assassínio dos palestinos”. Na declaração final deste ano, os participantes comprometeram-se à oposição ao Plano Colômbia, à ALCA e à privatização, e declarou que o presidente George Bush e o primeiro ministro israelense Ariel Sharon constituem um “eixo do mal”. Visões similares têm sido expressas pelo grupo internacional de Lula desde 1990, e podemos esperar que o governo Lula adote muitas dessas posições à medida que se consolida no poder.

Outros sinais negativos sobre a futura política externa de Lula incluem os seguintes fatos: em março de 2002, seu partido político estabeleceu formalmente um comitê de solidariedade às guerrilhas comunistas da Colômbia; em 2001, a ala radical do movimento de Lula expressou total solidariedade a Yasser Arafat e a OLP; em 1999, seu Partido dos Trabalhadores (PT) estabeleceu uma parceria estratégica com o Partido Comunista chinês. Quando o assédio por aeronaves chinesas provocou o pouso de emergência de um avião de espionagem americano em abril de 2001, Lula da Silva declarou que seu partido apoiava a “posição justa do governo chinês" contra os EUA. Quando, em 2001, os EUA e a Inglaterra usaram a força aérea contra o Iraque para sustentar as resoluções do conselho de segurança da ONU, o Partido dos Trabalhadores de Lula reagiu dizendo que se opunha à “agressão armada e ... à ação militar ... que violam todas as normas internacionais”. O partido continuou condenando a administração Bush por “sua vocação hegemônica e unilateral que põe em risco a segurança mundial”.

Também interessa o fato de que, no passado, Lula da Silva disse que o Brasil deveria retomar o programa de desenvolvimento de armas nucleares – que existiu de 1965 a 1994 e projetou, com sucesso, uma bomba atômica de 30 quilotons – e deveria ter armas nucleares por ser o país uma grande potência. Durante a campanha presidencial, Lula afirmou que sua política internacional seria de “paz e amor”. Sua mais recente insinuação de que ainda queria que o Brasil tivesse armas nucleares foi dada em 13 de setembro de 2002, num discurso a um grupo de militares. Lula perguntava se o Brasil devia continuar agindo de acordo com o tratado de não-proliferação de armas nucleares, porque “se um cidadão pede para eu ficar de estilingue e ele de canhão para cima de mim, qual é a vantagem que levo?” Comentou-se que o discurso recebeu “aplausos entusiásticos” dos militares brasileiros. Esse discurso aconteceu algumas semanas após a decisão do FMI de conceder US$ 30 bilhões para o Brasil a fim de ajudar na adequação de suas necessidades financeiras.

Há alguns anos, a China busca cultivar líderes políticos e militares na América Latina, e tem atualmente dois satélites de reconhecimento com o Brasil, enquanto a companhia de aviação brasileira, Embraer - a quarta maior do mundo -, assinou um contrato para a construção de centenas de aeronaves comerciais na China. Antes da campanha presidencial, Lula já queria manter relações mais estreitas com a China. Em junho de 2002, Aloísio Mercadante, um dos principais membros do Partido dos Trabalhadores que pode se tornar o Ministro do Exterior no Brasil, disse publicamente que “as alianças com a China, a Rússia... são importantes para fortalecer uma possível coalizão anti-americana”.

É muito provável que a China expanda suas relações econômicas com o Brasil e receba com prazer a intenção de Lula de reduzir a influência americana na América Latina, criando relações mais amplas e extensas do Brasil com a China. Para contrabalançar os Estados Unidos, a China pode em algum ponto ajudar o governo Lula nas ambições de construir armas nucleares e mísseis balísticos, da mesma maneira que forneceu semelhante apoio secreto ao Paquistão, na intenção de contrabalançar a Índia.

Esses desenvolvimentos negativos são possíveis, mas não inevitáveis. Neste momento, todos os grupos democráticos na Venezuela buscam corajosamente a remoção de Chavez, devido às suas ações inconstitucionais de 1999 em diante. Os EUA deveriam contar a verdade sobre Chavez e expressar seu apoio àqueles que pedem por seu afastamento do poder e pela restauração da democracia. Se o governo democrático e os cidadãos do Hemisfério Ocidental - incluindo a administração Bush - agirem com realismo e habilidade, pode ser possível reduzir as conseqüências nocivas das últimas décadas do radicalismo de esquerda de Lula da Silva e trabalhar com o Brasil para ajudar todos os seus cidadãos, incluindo os pobres, a ter um futuro mais promissor.

*Publicado no Washington Times de 10 de dezembro de 2002

Tradução: Maria Inês de Carvalho

10.12.02

Venezuela hoje

Para informações sobre a crise venezuelana, geralmente negligenciada pela grande imprensa brasileira, recomendo a leitura de NOTALATINA, disponível a partir do endereço http://notalatina.blogspot.com

É ele mesmo embaixador

Nota do Editor - Vejam o comentário que o Meira Penna fez sobre o texto do Carlos Reis (que publico mais abaixo) sobre este triste e bufão personagem da política rio-grandense:

Gostaria que me esclarecessem se esse "satânico" Dr. Bisol é o mesmo que foi Senador ao tempo da constituinte de 1988 e tentou incluir no bestialógico então concretizado o "direito de todos à saúde, mesmo em caso de moléstia fatal".
Não creio que ele conhecesse a piada do Dr. Oliver Wendel Holmes, pai de um famoso juíz da Corte Suprema dos EUA, conhecido médico e humorista que definiu a vida como "uma moléstia sexualmente transmissível, com 100% de mortalidade"... Bisol queria protestar contra uma tal declaração, imaginando que, no Brasíl, o EStado tem até o direito de nos ressuscitar, nós, pobres mortais...



O Satânico Dr. Bi



Carlos Reis - Zero Hora publica matéria do além-túmulo, não para lembrar o Grêmio depois dos 3x0 contra o Santos (vade retro!), mas para nos trazer de volta o deplorável Dr. Bisol. Cada vez mais uma máscara de um fácies trágico, como denotam as cãs e as rugas, aprofundadas não a mando da consciência, mas pela fé mesma pela qual devota a vida, o Satânico Dr. Bi ressurge do ostracismo eleitoral, ou quarentena de descontaminação, para nos assolar com mais uma das suas. E veio falando grosso, repetindo as mesmas barbaridades doentias que levaram o governo Olívio ao inferno eterno, e nós a um precário “alívio” provisório.

Entrevistado e deixado a deitar falação, o seu hobby preferido, Bisol deitou e rolou na cama que ele aprontou para todos cidadãos gaúchos, os quais tiveram o azar de experimentar antes do Brasil todo algumas das “conquistas” do “projeto” do Partido dos Trabalhadores. Vou dissecar algumas delas, para relembrar ao leitor do infame vínculo do Dr. Bi. com o partido que nada tem a reclamar dele. E por que teria, já que o próprio Secretário está convencido da sua participação benemérita no “projeto” petista?

Diz ele mesmo: “Trouxemos a diferença. Na área da segurança não acontecia nada de diferente. O tempo vai dizer que de repente surgiu o PT e mudou tudo. Criou questões em cima de assuntos que nunca foram questionados”. Sobre o relógio dos 500 anos que a Brigada Militar sob ordens estritas do comando se viu impedida de coibir, o Satânico Dr. Bi não viu ali mais do que um pequeno incidente sobre o qual, aliás, pensa escrever um livro. Tal incidente se transformou em um
fantasma. “Nunca vi um fantasma igual. Eu nunca vi inventarem uma história e ela funcionar como se fosse verdadeira e fazer com que a Justiça condene inocentes”.

Quanto ao primeiro caso, o Dr. Bi tem razão. De fato o PT fez a diferença. Como nada acontecia de diferente na segurança de 9 milhões de pessoas (um mero detalhe despercebido pelo secretário), o PT resolveu inovar e criar questões que nunca antes foram levantadas. É de se perguntar porque nunca foram questionadas, porque nunca alguém mexeu tão fundo na segurança de 9 milhões de pessoas, porque ninguém ainda tinha mexido em uma instituição de 150 anos, como a Brigada Militar, na história de 500 anos do Brasil, etc. etc. Mas isso não é pergunta que se faça ao satânico secretário. O mesmo já está em um mundo melhor, no Show de Trumann, com reedição em janeiro de 2003. O Dr. Bi simplesmente continua seu delírio impassível qual um personagem machadiano. Inabalável como um Quincas Borba, ele continua surfando e surtando a mil! Do oficial da Brigada que impediu a invasão da barragem Barra Grande, e foi afastado do comando, disse o filósofo da humanitas que ele era um “mentiroso que a mídia transformou em herói”.

Claro, a mídia! O Dr. Bi respira aliviado com essa projeção freudiana de forte acento anal. Aqui me valho da brilhante análise do Dr. Ronaldo Brum em O TOTALITARISMO TARDIO, O CASO DO PT (org. José Giusti Tavares, ed. Mercado Aberto, 2000, Porto Alegre) do comportamento totalitário e autoritário daqueles que Freud via fixados na fase anal. Esses indivíduos são marcados por um forte desejo de mudança. Isso os leva a atitudes (comportamentos) que tendem a controlar a vida dos outros, com um forte anelo de poder sobre o ambiente exterior. Asseio, pontualidade, correção, minuciosidade, são deslocamentos da obediência às exigências parentais de satisfatório domínio esfinctérico.”(pg.94; R. Brum). O senso de ordem, se exagerado, ganha contornos de crueldade e sadismo. A tese de Ronaldo Brum se consagra quando reconhece a natureza freudiana dos grupos confessionais, entendidos como todos aqueles portadores de uma fé, de uma salvação messiânica e, como tais, irradiadoras de uma certeza da qual dificilmente escapam as massas desinformadas. Brum nos revela que “quanto maior a predominância de integrantes portadores de caracteres anais, especialmente entre dirigentes, será de se esperar maior organização e mais rígidos controles”. É de se salientar aqui que para J. Tavares e Ronaldo Brum, o totalitarismo é “um fenômeno presente em tendências universais, perenes, e indomáveis do indivíduo humano...”. Essa caracterização de totalitarismo transcende à política ao reconhecer o âmbito mais íntimo da psicopatia. Brum, seguindo os passos de E. Todd, acredita em um “viés psicótico nos partidos marxistas...(onde) predominam processos defensivos inconscientes considerados como de tipo obsessivo”.

Isso, pergunto eu, não é o próprio Partido dos Trabalhadores governando? Não estão claros os comportamentos autoritários e totalitários de seus líderes? A obsessão por limpar, por passar a limpo, por expurgar (verbo apropriadíssimo ao regime de Moscou que tem simpatizantes em Porto Alegre, dito pelo próprio Tarso Genro, se referindo a Olívio Dutra!) elementos sujos e corruptos, e as bandas podres, isto é, contrários à personalidade anal dos líderes petistas, caracteriza perfeitamente bem o vínculo entre um líder e o partido como um todo. Essa obsessão nos identifica que esse partido recorre como por instinto ou similitude psicológica a personalidades típicas como Freud descrevera há mais de século. Em português bem claro, Freud descrevia a criança na fase anal como aquela que se recusava a dar conveniente destino as suas fezes (como requer a civilização). Pelo contrário, o fixado na fase anal manipula e se lambuza com suas fezes. Depois, adulto, e sentindo-se culpado, reprime doentiamente todo aquele que lhe pareça sujo e corrupto, porque esse ritual o tranqüiliza e o afasta da imagem desagradável e culpada. Isso o impede de retornar psicologicamente àquilo que foi. Para a nossa consternação o poder que advém da democracia, e seu próprio ambiente de liberdade, facultam aos obsessivos anais jogarem as suas fezes no nosso ventilador social. Além disso, criaturas anais são vingativas e perseguidoras. Só se calam por cálculo. A propósito, o silêncio obsequioso a que se viu obrigado o Satânico Dr. Bi era mera estratégia eleitoral. Pois a imprensa foi buscá-lo de volta. É hora dele voltar à cena, ao cenário de falas e tiradas humanísticas para mais um Show de Trumann. Arrependimento? Autocrítica? Qual, nenhum! Apenas a fixação e o olhar distante. Nada abala essa divindade terrestre a serviço do “projeto”. O Brasil todo, nas mãos de outros que tais, em breve, estará sob o mesmo “projeto”. Mas isso é assunto para outro artigo.



9.12.02

WINSTON x WINSTON

Por Heitor De Paola

A encrenca: a História deturpada

É bem conhecida a prática dos regimes totalitários de constantemente
re-escreverem a História. Foi com base nesta observação na Rússia Comunista
que George Orwell moldou o personagem Winston, do Ministério da Verdade, uma
fina ironia com o prenome de Churchill, que há pouco havia previsto a
Cortina de Ferro. Mesmo após a derrota ou o desmanche desses regimes, seus
incorrigíveis ideólogos continuam, de tempos em tempos, fazendo o mesmo
retroativamente para justificar ou "dourar a pílula" do inferno que
defendem. As tentativas marxistas têm sido sobejamente denunciadas. Mas os
nazistas também fazem das suas. Além das absurdas teorias que negam o
Holocausto do povo Judeu, tentam denegrir seus mais ferozes opositores.

Nem Orwell poderia prever que, ironicamente, um destes personagens à la
Winston iria tentar inverter a História para atacar o Winston original.
Pois no último dia 18 de novembro o tablóide Der Bild, o jornal de maior
circulação na Alemanha, afirmou com todas as letras que Winston Churchill
foi efetivamente um criminoso de guerra que teria aprovado o extermínio da
população civil da Alemanha através de bombardeios indiscriminados de
cidades e vilas. O jornal apresentará em série o livro Der Brand (O Fogo:
Alemanha sob Bombardeio, 1940-1945) do historiador Jorg Friedrich, que se
intitula a maior autoridade sobre o tema.

Negando completamente o fato de que foi a Alemanha e seus aliados que
deflagraram a guerra e que os bombardeios de terror sobre a Inglaterra
começaram muito antes, quando a mesma estava quase indefesa depois da
retirada de Dunquerque, afirma que Churchill já planejara os ataques à
população civil 20 anos antes de Hitler ter desencadeado os bombardeios
sobre Londres e a destruição de Coventry, Varsóvia e Rotterdam. Afirma
ainda que a morte de civis alemães não foi apenas um "dano colateral", mas o
verdadeiro objetivo dos bombardeios.

Friedrich cita Churchill defendendo, durante a Primeira Guerra Mundial, o
bombardeamento de civis como "somente uma questão de modismo, tal qual a
altura dos vestidos das mulheres". É difícil que isto não tivesse vindo à
tona até agora, sabendo-se o quanto historiadores marxistas britânicos
estariam interessados em descobrir qualquer coisa contra Churchill. O que se
tem notícia é que os bombardeios noturnos, que mais danos civis causaram,
foram propostos por Sir Richard Harris, Comandante do Comando de Bombardeios
da RAF, para destruir a capacidade industrial da Alemanha, já que os ataques
diurnos que hoje se chamariam "cirúrgicos" se mostraram ineficientes com a
tecnologia disponível na época.

A publicação do livro certamente fornecerá argumentos para a direita radical
alemã em seus propósitos revisionistas, e cairá como uma luva na crença de
alguns alemães - e estrangeiros também, até entre nós - de que eles foram as
verdadeiras vítimas da guerra. Justo no momento em que existem tentativas de
reconciliação entre Alemanha e Inglaterra sobre o ataque a Dresden em
Fevereiro de 1945, em que morreram dezenas de milhares, com a guerra já
quase terminada. Há evidências de um ataque vingativo pelos estragos
causados pelas bombas V-2 neste caso? Há sim, mas não se pode debitar o
resto dos ataques na mesma conta.

É improvável que historiadores marxistas britânicos venham em socorro de
Churchill, o homem que salvou o seu País e talvez suas próprias vidas,
porque há todo interesse em denegrir os mais importantes vultos da
Inglaterra, principalmente o velho guerreiro, que anteviu o desastre do
comunismo muito antes dele ocorrer. Principalmente agora que a Inglaterra é
o mais firme aliado dos EUA - seguindo a tradição da Segunda Guerra - na
luta contra o terrorismo internacional. Pelo contrário, podemos prever uma
série de Winstons orwellianos a cavar "provas" das atrocidades do original.
Aqui no Brasil, então, isto nem será assunto da mídia que não está nada
interessada em verdades dolorosas.

(Baseado em reportagem de Kate Connolly, correspondente em Berlin do Daily
Telegraph)

8.12.02

A esquerda empacou na Internet?

Por Paulo Leite, de Washington, DC

A encrenca: a esquerda chorona

Recentemente, Tom Daschle - o quase-ex-líder da maioria no Senado norte-americano - se expôs ao ridículo ao reclamar da força que radialistas como Rush Limbaugh e outros (conservadores todos, claro) exercem sobre o público, chegando a gerar fanatismo e ameaças a políticos de esquerda - como ele - e suas famílias. Ameaças, aliás, que ele não especificou (provavelmente porque nunca existiram).

Na verdade, o que parece frustrar Daschle e outros políticos de esquerda nos Estados Unidos é a falta de reverberação de suas "idéias", por aqui chamadas de liberais. Apesar da esquerda dominar todas as grandes estações de TV, as redes noticiosas em cabo (com exceção da Fox News), os departamentos de jornalismo das grandes redes de rádio e a chamada grande imprensa, é cada vez maior a penetração das idéias conservadoras através de meios não convencionais como o talk-radio e a Internet.

Assim como apresentadores de esquerda raramente conseguem sucesso no rádio daqui, os sites esquerdistas na web aparecem muito menos do que os conservadores. A revista online Slate, criada pela toda-poderosa Microsoft, até hoje não conseguiu emplacar, apesar dos cofres recheados de sua criadora. De reformulação em reformulação, Slate continua capengando.

O fracasso da revista online Salon é outro bom exemplo. Estabelecida em 1995, Salon defendeu ardentemente Bill Clinton durante o processo de impeachment. Embalada pela febre da Internet no final do século passado, a revista abriu seu capital em 1999, conseguindo uma valorização acima de qualquer expectativa. Hoje em dia, porém, suas ações valem por volta de 10 centavos e estão para ser banidas da bolsa NASDAQ. As perdas acumuladas nos últimos anos chegam a quase 80 milhões de dólares, contra um faturamento de apenas um milhão no último trimestre.

O maior problema da Salon é a dificuldade de vender propaganda no site, que aumenta em proporção direta à queda no número de visitantes. A revista garante que tem 50 mil assinantes que pagam para acessar o site sem ter que ver anúncios, mas esse faturamente não é suficiente para manter as operações. Nos seus melhores momentos, Salon se gabava de receber 2,7 milhões de visitantes em um mês. Pode parecer muito, mas o Drudge Report, site que colocou em evidência a revolução conservadora na Internet ao revelar o escândalo Bill Clinton/Monica Lewinsky, recebe mais de 110 milhões de visitas por mês. Recentemente, Drudge ultrapassou um bilhão de visitas por ano. Bilhão com "b", mesmo.

Outros sites conservadores, como NewsMax, World Net Daily e Free Republic continuam a crescer, bem como uma infinidade de blogs. Em contraste, os sites "progressistas" não conseguem aumentar seu público, restrito aos anti-globalistas de sempre. Caso a Salon venha mesmo a fechar, como muitos analistas prevêem, o impacto das idéias de esquerda na Internet vai diminuir ainda mais.

Está cada vez mais claro que grande parcela do público norte-americano vai ficando craque em detectar informações e opiniões tendenciosas, que antes eram vendidas como jornalismo imparcial. Para desespero de muitos políticos, parece ser mais e mais difícil vender a ilusão do governo como "salvador da Pátria".


6.12.02

Nota do Editor: Recentemente, um leitor do Folhateen, o suplemento da Folha dedicado ao mundo dos adolescentes, teve uma carta publicada em que defendia Che Guevara. A fígura do revolucionário argentino havia sido levemente criticada num determinado artigo, o bastante para inflamar a jovem criatura. Dizia ele, na carta, algo mais ou menos assim: "é absurdo que alguém fale mal de Che, um ídolo da juventude que defendeu os excluídos e lutava pela justiça social".

O garoto não sabe o que fala e não tem a menor noção do que fez e por quais ideais lutava Guevara. Suas opiniões a respeito do guerrilheiro foram formadas a partir da leitura dos jornais e da visão de mundo dos seus professores. Entrará na universidade ignorante e poderá sair dela um doutrinador leninista. Não é algo implausível dada a supremacia da ideologia marxista nas academias país afora. Mas essa é uma outra discussão. Limitemo-nos ao Che. O texto abaixo ajuda a entender melhor o mítico barbudo.


Quem foi Che?

Por Rafael Moura-Neves

A encrenca: o "mito" Che

Conheçamos Che Guevara, um homem retratado à feição de um Jesus Cristo mas que poucos conhecem sua verdadeira face. Examinemos seus mestres, seus ídolos e os países que admirava: Lenin, o fundador do Estado Soviético, um dos ídolos de Che Guevara, disse em 1891: "A fome tem várias conseqüências positivas (...) a fome nos aproxima de nosso alvo final, o socialismo, etapa imediatamente posterior ao capitalismo. A fome destrói assim a fé não somente no Czar, mas também em Deus".

Depois, em 1921, por ocasião de uma grande fome, quando já era o líder máximo, Lenin reafirmou que "a fome deveria servir para ferir mortalmente o inimigo (Igreja Ortodoxa)". E foi mais além, proibiu ajuda aos famintos. Quem os ajudasse, poderia ser até preso. Pereceram nessa fome 6 milhões de pessoas.

Che Guevara estudou Lenin, admirou-o, e provavelmente leu também o seguinte discurso leninista: "É preciso lutar contra a religião", "o marxismo é incondicionalmente ateu, decididamente hostil a qualquer religião". Stalin, uma das figuras mais perversas deste século. Responsável diretamente por milhões de mortos, pelos processos de Moscou, pela fome deliberada na Ucrânia, pelo Gulag. Seus crimes foram denunciados por Krushev a partir de 1956.

Foi essa figura a quem Che Guevara jurou: "diante de um retrato velho e prateado do camarada Stalin, jurei não descansar até ver esses polvos capitalistas aniquilados". Por ocasião de sua visita a Moscou, Che ficou bravo com o embaixador cubano porque este se opôs a depositar flores no mausoléu de Stalin.

A Mao Tsé Tung, Che tinha grande admiração, e o conheceu pessoalmente numa viagem a China. Qual era o motivo da admiração? Talvez porque Mao tenha ordenado a invasão do Tibete nos anos 50, na qual 1 milhão de pessoas morreram (1 em cada 8 habitantes), e na qual monges foram enterrados vivos. Talvez por ter instalado na China uma das mais perversas ditaduras de que a história teve notícia ...

Che também admirava desde jovem os comunistas da Guerra Civil Espanhola. Esses comunistas ficaram famosos por torturar, esquartejar e matar padres durante a guerra. Um dos comunistas que participou da guerra civil, Angel Ciutah, ajudou Che a criar o serviço de segurança do Estado, para proteger o estado revolucionário cubano.

O serviço de segurança ficou famoso depois da morte de Che porque era um exemplo de eficiência na arte da tortura, das provas forjadas e dos assassinatos. Huber Matos, que lutou ao lado de Che e Fidel, foi a primeira das vítimas. Apenas porque discordou do "comandante", foi executado.

Che dizia que a solução para os problemas do mundo estava atrás da Cortina de Ferro. O que havia lá de tão excelente? Além do Gulag, da perseguição religiosa, dos massacres, da fome premeditada, das polícias políticas? E havia o Muro de Berlim na Alemanha Oriental... Quem quisesse escapar da miséria pulando o muro era fuzilado.

Em 1956 na Polônia a multidão, num protesto contra o governo totalitário, gritava "pão e liberdade". Foi reprimida a bala, o que ocasionou dezenas de mortos. Em 1956, na Hungria, houve a revolução anti-totalitária, na qual a população resistiu com armas na mão contra a invasão soviética. Pereceram 3.000 pessoas; 200.000 fugiram.

Talvez a solução dos problemas do mundo estivesse com o camarada Enver Hoxa, que proscreveu a religião na Albânia, ou então com os expurgos internos de Tito na Iugoslávia, ou ainda com o governo corrupto de Ceaucescu na Romênia. Por que Che escreveu: "Dos países que visitamos, a Coréia do Norte é um dos mais extraordinários" ? Talvez ele tenha gostado da Guerra da Coréia provocada pelo governo do norte, na qual 500.000 pessoas morreram; talvez tenha admirado o grande expurgo interno promovido por Kim Il Sung ocorrido algum tempo antes de sua visita, no qual o líder coreano perseguiu e matou milhares de opositores do regime.

Por que Che disse: "na China não se vê nenhum dos sintomas de miséria que se vêem em outros países" ? Deve ter-se referido ao "grande salto para frente" de Mao, projeto econômico na China, envolvendo entre outras coisas a coletivização forçada. O resultado do projeto foi a maior fome de toda a história. Mao chegou a exportar comida e impediu a aceitação de ajuda externa. Pereceram mais de dez milhões de chineses.

Che disse: "Cuba devia seguir o exemplo de desenvolvimento pacífico mostrado pela URSS". O que era "desenvolvimento pacífico" para ele? O racionamento de comida feito por Lenin? O Gulag? Os expurgos de Stalin? A política anti-religiosa de Krushev? A burocracia corrupta de Brejnev? Os inúmeros massacres e perseguições que o Partido Comunista impôs aos soviéticos?

Realmente, Cuba, a ilha-prisão, seguiu bastante o exemplo da URSS: corrupção, expurgos internos, assassinatos, repressão, campos de trabalho forçado (que Che ajudou a construir) etc. Mas o que mais caracterizou a revolução cubana foi o "Paredón", em que Che teve participação ativa, principalmente em La Cabaña. Quantos ele matou lá? 300, 400?

Junto aos seus ídolos Lenin, Stalin, Mao e companhia, Che contribuiu para a construção do regime que mais matou pessoas em toda a história, o chamado "socialismo real", responsável por mais de 100 milhões de mortos. Nada perde ele, portanto, diante do nefasto nazismo. Mas talvez nem esses 100 milhões de vítimas ainda não bastem para derrubar esse mito que transformou um criminoso arrogante e intolerante com sua ideologia mentirosa em um santo aos olhos daqueles com preguiça de aprender História.

FONTES:
"Che Guevara, a vida em vermelho", de Jorge Castañeda
"O Livro Negro do Comunismo" (Le Livre Noir du Communisme)



5.12.02

O DESAFORAMENTO DE PORTO ALEGRE

Por Carlos Reis

A encrenca: o FSM

Desaforar no Aurélio significa 1.Isentar do pagamento de um foro. 2. Privar de direitos ou privilégios. 3. Deslocar (um processo ou o julgamento dele) de um foro para outro. A última acepção é a que convém mais ao meu desejo que o recém eleito governo gaúcho viesse a desaforar definitivamente o Fórum Social Mundial (FSM) de Porto Alegre para outra praça qualquer onde o socialismo seja bem vindo.

O claro recado que a população deu ao botar para fora o governo socialista petista ainda não foi bem compreendido pelo governador eleito. Preso na armadilha gramsciana e vítima de repetidas ameaças e argumentos que fogem da finalidade do Fórum, como são exemplos os recadinhos deixados nas páginas dos jornais (Zero Hora, de domingo, 1o de dezembro, pg. 3; Zero Hora de 4 de dezembro, pg, 8 , da editora de política), o governador Rigotto se mostra muito aquém no enfrentamento da questão que o povo que o elegeu colocou para ele.

Estou falando do quê, exatamente? Do que se trata a questão do FSM? Mandando às favas a retórica política e o rebolativo jogo de cintura de que são pródigos a nossa classe política, aliás, muito ruim, o que por sua vez nivela por baixo o jornalismo político, a questão do FSM se resume à denúncia ou não da ideologia socialista de que o FSM está impregnado até a medula dos ossos. A questão é do conteúdo e da finalidade do FSM. E eles são claramente a ideologia marxista-leninista (com as roupas da moda, evidentemente), e a construção de uma 5a Internacional Socialista. Instados pelo governo Rigotto (que, diga-se toda a verdade, denunciou o seu conteúdo socialista) a alterar o conteúdo temático do Fórum com inclusão de outras propostas a ele, seus organizadores foram taxativos em não permitir que qualquer idéia que não se alinhe ao pensamento socialista internacional ali fosse mostrada. Fecharam-se na visão única, no pensamento único. De mudar a temática, não se cogita. E por que isso? Porque a linha do pensamento único, antiamericano, anti-neoliberal, anti-capitalista, anti-Israel, antisemita, agora é vitoriosa com a eleição de Lula, estrela maior juntamente com Fidel Castro do outro Fórum, o de São Paulo - aquele que não pode dizer o seu nome na imprensa!

Quando Rigotto chega à Europa e lá é recebido com frieza e o estado que ele representa somente é lembrado pela alusão ao FSM, o que fica patente é o sucesso da propaganda socialista originária da Europa, do eurocomunismo dos anos 60 e 70, que vislumbrou no governo Olívio uma oportunidade de fixar-se no Brasil, e não do FSM propriamente dito, a não ser para a militância revolucionária ainda vivíssima no mundo. Tal sonho, ora concretizado, não pode ser contrariado, justamente agora que o Brasil todo, e não apenas o Rio Grande do Sul, se torna socialista.

Como a propaganda e o júbilo comunista interno freqüentam as páginas dos jornais, contaminando até os que não são socialistas, mas principalmente desinformando a população menos esclarecida, não é de estranhar os recadinhos simpáticos à ideologia socialista. Se não, vejamos. O quê que o editor da página 3 quer dizer com a frase: “é indiscutível a importância que o evento tem para a projeção mundial do nome de Porto Alegre e do RS ”? Se aqui se organizasse um genocídio, digamos, para matar umas 100 mil pessoas, tal evento não projetaria o nome de Porto Alegre para o mundo todo da mesma maneira? É claro que o conteúdo é que é importante, mas o editor não se referia a isso, ele queria a continuação do “evento” com toda a sua simplicidade e inocuidade, para que a população continue a não se aperceber que o propósito do FSM, é, repito, ser instrumento de propaganda da ideologia socialista de caráter revolucionário, e de ser ou se transformar em uma 5a Internacional Socialista. Dizer para o povão o que são e foram essas internacionais o jornalista não se dará ao trabalho de fazer, é claro.

A mesma idéia ingênua (?) da editora-chefe de política do jornal pretende insinuar ao governador que o FSM é importante demais para deixar de ser apoiado financeiramente. Importante para quem, senhora editora? Para os detentores do pensamento único, ou para os hoteleiros e prestadores de serviços capitalistas que o próprio FSM tanto execra? Isso em uma cidade onde nem se pode falar em abrir o comércio aos domingos; um flagrante e constrangedor dois pesos, duas medidas. Para defender a permanência desse circo de horrores socialistas argumenta-se como os “neoliberais” o fariam! Que cinismo e hipocrisia!

Que o FSM se realizasse mesmo sem o concurso do governo do estado já seria execrável. Mas importa mais ainda dizer que ele, assim como o seu congênere mais enrustido, têm um propósito inconfessável a que somente aos ineptos, aos desinformados, aos ingênuos e tolos ilustrados poderia enganar. O regime político que esses fóruns defendem mataram mais de 100 milhões de pessoas no mundo todo no século vinte! Emoção mesmo, bom, deixemo-la para os “protagonistas” e para todos os ratos vermelhos, para os ratos pretos anarquistas internacionais, para os ratos verdes ecologistas, para os ratos anticapitalistas, para os ratos destruidores de lavouras, etc, etc, etc, que acreditam que um mundo sem polícia, sem barreiras, sem forças públicas, sem autoridade, e sem lei é um “mundo melhor” para eles, e somente eles, proliferarem.


O SONHO E O PESADELO

Por Percival Puggina

A encrenca: a Ilha de Fidel

O outdoor, colocado à beira da estrada que liga a cidade de Havana ao aeroporto José Martí, continha apenas uma frase: “Seguimos construyendo nuestros sueños!”.

Fiquei com aquelas palavras martelando no cérebro porque representam com perfeição o imenso pecado original do projeto castrista. Quem visita a ilha de Cuba, aonde voltei para recolher novas impressões e fazer contatos necessários a um livro que pretendo escrever, pode escolher um dentre dois caminhos: o caminho dos turistas ou o caminho do povo. Um é fácil e ensolarado, repleto de cenários interessantes, belas fotos, excelentes charutos, razoáveis restaurantes, bebidas exóticas e deslumbrantes praias.

O outro requer a disposição de penetrar nos becos sombrios onde se contorce e deforma a alma nacional cubana. Foi o que fiz, expondo-me a riscos que mais tarde irei relatar. Mas não posso conter em mim o desejo de pôr no papel a aflição que trago no peito e cuja causa se expressa, com perfeição, naquela frase: “Seguimos construyendo nuestros sueños!”. Que sonhos são esses? Quem os sonhou?

É imenso o contraste existente entre qualquer sonho bom e o pesadelo cubano. A sentença do outdoor é, mesmo, condenatória. O povo cubano está sentenciado a prosseguir sonhando o sonho que lhe mandam sonhar, o sonho daqueles que dirigem a Ilha, que o impuseram ao povo, e mandaram colocar ali o cínico cartaz, suficiente para desnudar a perversidade que se estabelece quando uma utopia, qualquer utopia, germina a ponto de produzir seu fruto predileto: o totalitarismo.

Não mais importam, a partir desse momento, a opressão necessária para impor o sonho, os direitos desrespeitados, as vítimas tombadas nos paredones, as almas amputadas, as gerações perdidas. Nada mais importa porque só há um sonho a ser sonhado, e só ele é bom, justo e nobre. Pode levar dez anos, meio século, um milênio. Não importa que todos morram antes de que aconteça, nem quantos morram para que aconteça. Que importa a vida se há um sonho?

Ainda que o desejo de liberdade produza opressão e que o anseio por igualdade gere discriminação, ainda que tudo termine em miséria e racionamento, os detentores do poder se consideram titulares do direito de proclamar que tudo é exatamente ao contrário daquilo que pode ser percebido pelos cincos sentidos de qualquer ser vivo. Há um sonho sendo construído...

Neste momento em que um novo projeto político se instala no país, espero que as palavras de Lula ao Washington Post (“Não vamos confundir a paixão da minha geração pela Revolução Cubana, com aprovação ao regime cubano de hoje”) sejam reconhecimento de um pesadelo, ao passo que sua louvação a Fidel Castro no fim do ano passado (“Obrigado Fidel por você existir”) seja, apenas, lembrança de algum sonho já sonhado.

A COMEMORAÇÃO DA REVOLUÇÃO BOLCHEVISTA PELO PT E O “ANIVERSÁRIO” ESQUECIDO

Por Paulo Diniz

A encrenca: notícia publicada na FOLHA DE CAMPINAS, de 19/11:

“O presidente da Câmara Municipal de Campinas, Romeu Santini (PSDB), protocolou ontem o pedido de abertura de uma CEI (Comissão Especial de Inquérito) para apurar gastos de R$ 72,5 mil pela administração petista na comemoração dos 85 anos da Revolução Russa. O secretário municipal de Cultura, Esportes e Turismo, Walter Pomar -3º vice-presidente nacional do PT- autorizou o pagamento de R$ 30 mil para o cartunista Gilberto Maringoni de Oliveira organizar a mostra "Revolução Russa - Cultura e Política nos Caminhos da Rússia". O curador da mostra, que ocorreu entre os dias 5 e 10 deste mês, é assessor do deputado federal eleito Luciano Zica (PT) e foi contratado sem licitação. Outros R$ 42,5 mil foram gastos com o show do cantor e compositor Jorge Mautner, durante a semana russa em Campinas.”

É interessante pensar, por exemplo, qual teria sido a reação da imprensa se, digamos, algum prefeito tivesse empregado dinheiro do contribuinte para homenagear o centenário da ascensão dos nazistas ao poder na Alemanha. Não é preciso muita imaginação para deduzir que o fictício prefeito teria sido linchado pela mídia, e sua carreira política estaria muito provavelmente comprometida.
Pois é o governo de Campinas fez exatamente isso. Exaltou uma Revolução que abriu o caminho para um regime assassino, totalitário, exportador de revoluções e violências, que submeteu o povo russo a décadas de martírio, ódio e barbárie. Mas o PT de Campinas acha que não foi nada disso que aconteceu, e promove a sua “semana russa” pró-bolchevista.

Esse tipo de acontecimento insólito seria cômico, se não fosse muito, muito trágico, só podendo acontecer num país anestesiado como o nosso, onde partidários de regimes totalitários e de criminosos internacionais dominam a cena política nacional, apoiados por lideranças políticas irresponsáveis, que buscam cargos e vantagens, além de dividendos eleitoreiros, além da mais vergonhosa colaboração dos meios de informação para manutenção de sua “tenda dos milagres”, vendendo ignorância e mentira como sabedoria e verdade, no melhor estilo “Grande Irmão” de Orwell.

Apenas totalitários mentirosos apoiados pelos desinformados de sempre, é que podem aceitar um disparate desses, onde o dinheiro público foi gasto para homenagear o inicio de uma orgia de sangue e destruição como foi Revolução Russa.
Como já ressaltei antes, a seletividade do falso moralismo da mídia nacional é pública e notória, impedindo uma maior repercussão de tal barbaridade, e não fosse pela tentativa do presidente da Câmara dos vereadores de Campinas em obter satisfações dessa patética e infame destinação de recursos municipais, o episódio passaria em “brancas nuvens”.

Mas, fica a dúvida: não é justo temer pelos destinos do Brasil, visto que no governo federal estão os representantes do mesmo partido que celebra essa vergonha histórica? Pessoas que não conseguem ou (como deve ser mais provável), não querem ver que a Revolução bolchevista nada representou de benéfico, podem, a qualquer momento, achar que as medidas tomadas pelos revolucionários soviéticos, como liquidar seus adversários, coletivizar a produção, conspirar, prender e assassinar, são “válidas”.

Muito mais honesto e necessário teria sido a lembrança da Revolução russa não com o intuito de glorificar, mas sim de denunciar os horrores que se seguiram ao domínio bolchevista da Rússia, com seus “gulags”, e os milhões de assassinatos, incluindo o martírio de centenas de milhares de religiosos e fiéis cristãos, barbaramente torturados e massacrados pelos “camaradas” soviéticos. Mas nada disso é minimamente lembrado, e, ao contrário, presenciamos uma entidade como a CNBB, supostamente voltada para a religiosidade, cuidando de fornecer apoio a políticos e ideologias que são nitidamente calcadas nos ideais dos assassinos bolchevistas.

Por outro lado, enquanto os petistas comemoram os 85 anos de fundação do criminoso regime soviético com dinheiro público, este ano outro episódio está completando 70 anos. E trata-se justamente do início de um dos maiores massacres cometidos pelo governo bolchevista: o genocídio contra os kulaks, pequenos proprietários rurais, principalmente na Ucrânia. Alvos de uma violenta campanha repressiva, cujo pretexto era a coletivização das terras, os proprietários rurais tiveram suas terras roubadas, sendo torturados e assassinados às centenas de milhares, enquanto muitos outros foram deportados para os campos de trabalhos forçados na Sibéria.

As conseqüências desse trágico episódio foram a total desorganização da agricultura, com 6 milhões de mortes provocadas pela fome, num país que até 1914 era exportador de alimentos; 1, 8 milhão de camponeses deportados e centenas de milhares executados ou mortos durante as deportações. (O Livro Negro do Comunismo, RJ, 1999, p.180).
A terrível fome que assolou a Rússia entre 1932 e 1933 era de conhecimento dos governos estrangeiros, sobretudo o alemão e italiano, em especial este último, cujos diplomatas sediados nas importantes cidades ucranianas de Kharkov, Odessa e Novorossisk, enviavam relatórios constantes e precisos ao governo italiano sobre os horrores que aconteciam no país.

O líder italiano Benito Mussolini, de posse dessas informações, e sendo um ditador supostamente de “extrema-direita”, contava com ótimo instrumento de propaganda anticomunista, mas nada fez. Preferiu guardar silêncio sobre os terríveis acontecimentos na União Soviética, e lucrar com isso, fechando acordos comerciais e políticos com os soviéticos, em 1933, demonstrando que o suposto anticomunismo dos fascistas só ia até onde mandava a hipocrisia, não havendo empecilhos em assinar acordos com um regime monstruoso, que teoricamente era seu inimigo ideológico. (Ibid., p.194)

E enquanto o triste “aniversário” desse episódio terrível é completamente ignorado no Brasil, a chegada ao poder dos assassinos comunistas que o provocaram é celebrada por importantes membros do partido do recém-eleito presidente da República, e ninguém vê nada de errado nisso.